Libertação Miofascial
MYOFASCIAL RELEASE
As origens da libertação miofascial remontam aos trabalhos do grande Andrew Taylor Still. Ao trabalhar com pacientes, ele foi o primeiro a observar a relação entre as estruturas fasciais e o seu impacto no estado geral do organismo. Mais tarde, Ida Rolf, com a sua abordagem inovadora, abriu um novo capítulo na compreensão do trabalho fascial através da integração estrutural. Nos anos 1970, John Barnes sistematizou esse conhecimento, criando o método básico de libertação miofascial.
Nos dias de hoje, a técnica continua a evoluir graças a mestres como Thomas Myers, criador do conceito de trilhos anatómicos, Luigi Stecco, que desenvolveu o método de manipulação fascial, e Jean-Pierre Barral, que deu uma contribuição inestimável para a compreensão das conexões fasciais viscerais. Robert Schleip e as suas pesquisas sobre a inervação fascial permitiram-nos entender melhor os mecanismos das síndromes dolorosas e a sua ligação com as estruturas fasciais.
Definição e mecanismo de ação
Na minha prática, enfrento constantemente como o corpo reage a traumas e stresse através de tensões protetoras e espessamento dos tecidos, limitando a sua mobilidade. Estas tensões são uma espécie de grito de ajuda do nosso corpo, que tenta proteger-se criando bloqueios miofasciais. No entanto, essa proteção muitas vezes torna-se parte do problema, criando um círculo vicioso de tensão e dor.
Fáscia e tecido conjuntivo
A fáscia não é apenas uma camada de revestimento, mas uma rede de comunicação extremamente complexa que atravessa todo o corpo, desde a superfície até às profundezas.
Organização estrutural:
- Fáscia superficial – localizada diretamente sob a pele, contém tecido adiposo e regula a termorregulação
- Fáscia profunda – tecido conjuntivo denso que envolve os músculos e órgãos internos
- Fáscia visceral – envolve os órgãos internos e cria caminhos para o seu movimento
- Fáscia perivascular – acompanha os vasos sanguíneos
- Fáscia perineural – envolve os nervos e as terminações nervosas
Propriedades biomecânicas:
- Tixotropia – capacidade de mudar o estado agregado sob carga mecânica
- Efeito piezoelétrico – geração de carga elétrica durante deformação mecânica
- Viscoelasticidade – capacidade de se esticar e retornar à posição inicial
- Plasticidade – capacidade de manter uma nova forma após aplicação prolongada de força
Características funcionais:
- Sensibilidade proprioceptiva devido à rica inervação
- Mecanotransdução – capacidade de transformar sinais mecânicos em bioquímicos
- Participação nas respostas imunológicas do organismo
- Importância na manutenção da hidratação dos tecidos
Principais abordagens de libertação
- Libertação direta – trabalho diretamente na área problemática. É importante sentir os tecidos e a sua prontidão para mudanças.
- Libertação indireta – a arte de seguir os tecidos. Permitimos que o corpo mostre o caminho para a cura, apenas guiando suavemente o processo.
- Abordagem combinada – usada em casos complexos, que exigem um trabalho mais profundo com os tecidos.
Mecanismo de ação
Nível mecânico:
- Restabelecimento da mobilidade entre as camadas de tecidos
- Amolecimento de espessamentos fasciais
- Melhoria no deslizamento dos tecidos
Nível fisiológico:
- Melhoria da microcirculação
- Reforço da drenagem linfática
- Ativação do metabolismo local
Nível neurofisiológico:
- Normalização da propriocepção
- Redução da sensibilidade à dor
- Restabelecimento do tónus muscular normal
Aplicações da libertação miofascial
Incluindo medicina desportiva, neurologia, ortopedia:
- No tratamento de dores de cabeça
- Para alívio de espasmos musculares
- No trabalho com nevralgias
- No trabalho com dores nas costas
- Para correção da postura
- Na reabilitação pós-operatória
- Na recuperação após lesões
- Para prevenção de lesões
- Na preparação para competições
Técnica de execução
Ao trabalhar, é importante lembrar a principal regra – quanto mais suave for a abordagem, melhor será o resultado. A força bruta é inimiga da libertação miofascial. É essencial perceber o momento da reação tixotrópica – normalmente, 90–120 segundos de manutenção da técnica, até que os tecidos comecem a “derreter” sob as mãos. Durante a libertação, pode sentir-se um aquecimento característico dos tecidos, indicando o aumento da circulação sanguínea local e o início do processo de regeneração.
O corpo do paciente não é um objeto de intervenção, mas um parceiro no processo de cura. Com a abordagem correta, o paciente sente conforto e relaxamento, mesmo quando trabalhamos em áreas dolorosas. Ouça o corpo do paciente, siga-o, e ele indicará o caminho certo para a recuperação da saúde.
☛ Massagem profunda do tecido conjuntivo.
☛ Técnica de Libertação Posicional Facilitada.